FALAR PARA QUE?
Se já disseste-me que em mim só se ama inteligência minha.
Estão de parabéns os burros.
Se recitaste-me que um tesouro por si desconhecido
facilmente aproveita-se.
Se proferiste-me que os pobres são boas escadas para alcançar o paraíso.
Vagabunda do género desconhecido
Que queres que eu diga?
Se sabe-se que o materialismo é o que descreve-te
A burrice qualifica-te
A desonestidade consuma-te
E o imbecil alimenta-te.
Que queres que eu profira?
Se sabe-se que comigo ficaste por causa dos meus dólares
Se sabe-se que em mim não se pisa no chão
Se me usavas como chinelo
Se via-me como faca para preparar a sua chiguinha
Se via-me como cão para guarnecer a sua casa
Se via-me como sapato para proteger a sua mandioca
Se via-me como gato para sacudir as cobras do vizinho
Se via-me como carro para levar-lhe à escola
Se via-me como galo para acordar-lhe à madrugada
Se via-me como agrafo para segurar as suas folhas
Se via-me como tecto para cobrir a sua cubana
Se via-me como livro para ensinar-lhe aventuras
Se via-me como água para limpar a sua negritude
Se via me como calcinha para proteger o seu sexo
Se usavas-me como soutien que esticava as tuas pistolas bananas
Se olhava-me como escova para limpar as suas pedras
Se via-me como escuridão por onde escondia as suas vendas nocturnas
Se via-me como barco para atravessar as suas urinas
Se todo cosmo já sabe que não me amaste.
Se todos já conhecem esses truques teus.
Se o universo já tem noção dos teus sapatos
teus chinelos, tuas calcinhas e teus coletes
Juga Ernesto Samuel. Uma ilusão destruidora