BREVES LINHAS SOBRE MIM!...
 
De pequeno sempre tive momentos duma profunda caminhada rumo à uma compreensão de que seria na verdade o HOMEM na sua diversidade de pessoa. Tomei-me como experiência viva das minhas buscas. Nelas, fui aprendendo na companhia de dores e perdas, de frustrações e rejeições e dum mosaico todo de acontecimentos.
Para ser o homem convicto da sua caminhada, requer um constante conflito interior e incompreensões vindas do outro, um outro que é sempre para nós uma ponte doadora de sentido e de complementaridade dialéctica e comunicacional. Só vendo as pirâmides da coexistência neste ponto de vista, compreenderemos melhor que a vida é e sempre será uma sinfonia incompleta mas, que nesta sua não complementaridade há algo de tão bonito e precioso – O Amor, A Solidariedade, A Sobriedade, A Entrega e a Profunda Escuta do meu Self e a Voz do Outro.
            É bem dentro destas ramificações em que tenho vindo a dedicar toda uma grande parte da minha vida para buscar compreender o que há de mais nobre e profundo no ser de cada um enquanto dimensão única, irrepetível e intransmissível. Nisto, cada um só pode conseguir de forma directa viver as suas experiências e as do outro, de forma transcendental.
            Sou Dionísio Geraldo Bahúle, natural de Chidenguele, Distrito de Manjacaze, Província de Gaza. Sou filho de pais humildes – dum médico Ginecologista de reconhecido mérito Geraldo Pedro Bahúle, e duma doméstica, mulher humilde e profunda que sempre soube não obstante a meio de dificuldades de tamanha índole fazer-me compreender o que mais salvífico há entre a humanidade – o amor, o respeito, a sobriedade e a entrega nos seus diversificados domínios da existência humana Carlota Domingos Cega.
            Nasci aos 26 de Outubro, com saúde sempre frágil e problemática o que ainda hoje tem vindo a caracterizar o mesmo estado de saúde. Sou primogénito de seis irmãos do casamento da minha mãe com meu pai. A difícil vida em que meus pais me trouxeram à terra, cedo fez-me compreender a necessidade de engajar-me na luta pela melhoria da vida dos meus irmãos e de meus pais, a quem por eles sou eternamente grato pela educação que sempre souberam-me transmitir.
            Dionísio é uma figura voltada aos dramas da existência social e pessoal. Sensível a todo lamento de quem grita e estende a mão. Mergulha-se num quadro pictórico, caracterizado por uma cena, um ambiente e um tema que sempre excita as suas reflexões queiram elas de nível poético assim como, a nível filosófico. Em todas as suas buscas, chegou a conclusão de afirmar em muitos escritos já publicados que a vida era por excelência – ARTE.
            Na arte, encontramos uma imersão terapêutica. Quando falo de imersão terapêutica, quero significar submersão ou mergulho nela para perceber suas belezas e riquezas ocultas aos olhos de quem está na superfície. A imersão vai para além do simples desfrutar da sensibilidade, é um chamado no sentido ontológico que propicia além de uma terapia, um carácter educativo.
            Tive pela tradição de casa, em particular aos meus pais a paixão envolvente pela leitura e reflexão crítica. O meu primeiro contacto com o livro foi com uma colectânea de textos da historiografia portuguesa. Tive uma paixão enorme por uma poetisa que tenho vindo sempre a dizer que é uma referência na Literatura Lusa, ainda poucas e bem poucas vezes trazida aos debates – a Florbela Espanca[1].
Ela marcou de forma tão particular e profunda os meus traços da minha literatura. Do seu livro, Charneca em Flor de 1930, guardo estes versos tão doces e profundos:
Meu Amor! Meu amante! Meu Amigo!
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
Sinto-me alegre e forte! Sou menina!

E no seu livro, Livro de Mágoas de 1919, marcam-me estes versos, tão profundos e sinceros:
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…
[…]
Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…

            Trago este versos para mostrar quem de forma tão decisiva influenciou o meu sabor literário. Depois dela como é certo, tive variadíssimas leituras que marcaram grandemente os meus escritos. De toda uma tradição Portuguesa no âmbito da Literatura, desde às cantigas à literatura propriamente dita moderna ou contemporânea.  
Dionísio encontra-se de momento a frequentar o Ensino Superior; faz Filosofia e História. Sua grande paixão é a tentativa cada vez mais acrescida de compreender o mistério humano, como um livro de inúmeras páginas. A experiência tida na casa de formação religiosa na Congregação da Nossa Senhora de Consolação, também contribuiu bastante no afunilamento do seu carácter e na sua preocupação pela pessoa. A corrente central que guia o seu pensamento e abordagens é o Personalismo entendido como a reflexão sobre na sua integridade, como matéria e como espírito.



           




[1]              Nasceu em Vila Viçosa em 1894. De temperamento ardente, foi bastante infeliz na vida familiar e sentimental, acabando por morrer em Matosinhos, Porto, em 1930.

1 comment:

  1. gostei do poema.versos curtos mas bem elaborados.

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