Autobiografia do JUERSA

 Melancolia produzida no exilado pelas saudades pela vida


Autobiografia
Chamo-me Juga Ernesto Samuel Matsimbe Langa Xiguruguru Wakaruwuteka Wamungota Wakubassa. Este é o meu nome completo. Ele tem uma origem absolutamente africana. Mas devido a globalização, as coisas no mundo inteiro vão mudando. Nesta mudança, encontro-me actualmente a ser chamado simplesmente de Juga Ernesto Samuel. O resto de sobrenomes é totalmente dispensável.
Sou natural de Massinga, província de Inhambane, distrito de Massinga, localidade de Rovene e Bairro de C. T. T..
Os meus parentes denominam-se de Ernesto Juga Samuel e Rosa Salvador Matavela. Eles estão actualmente divorciados, por motivos nunca por mim descobertos. O meu pai reside presentemente em Massinga e a minha mãe em Maputo.
No dia 17 de Março de 1992, a minha mãe deu parto a um ser vivo racional apaixonado pelo saber. Não um filósofo como quer-se perceber, mas um amante da filosofia, ou seja, um amigo do amigo do saber, chamado Eu. Este Eu, difícil de defini-lo devido a sua complexidade, apresenta as seguintes características físicas e psíquicas: alto, de corpo normal, de cabelos pretos, de olhos castanhos, de dedos compridos, de pés grossos, de barba curta e de nariz não pontiaguda. Ele é veloz em flexão muscular, joga Basketbol, Voleibol, Freeze Be, Colcheias[1], Matamata[2], Corda, Neca[3], Txuva[4], Coracapó[5], Xinjiri[6], Cartas, e Tidotche[7]. Também, ele é elegante, charmoso e estiloso, modelo e atraente. Ele é um Juga Ernesto Samuel ou JUERSA, que gosta do Silêncio; da Solidão como veículo à busca da Alegria e Sossego; de Meditação como um mundo da residência do Assombro e do encontro do Eu verdadeiro. Gosto de passear como forma de perseguição da inspiração para escrever e para viver. Gosto de ler como maneira de complementar o saber. Gosto de escrever textos literários como feitio de gritar silenciosamente, devido a execução de dores dos picos da vida. Gosto de filosofar acompanhando o apetecer quando me apetece. Gosto de mulheres, mas, precisa ser uma mulher sinceramente bonita exteriormente e interiormente e sobretudo esperta e não medrosa; uma mulher inteligente, social, atraente, modelo, com ancas angulosas, peito organizado, traseiro espectacular, pele não rugosa mas macia.
Passeando no passado, a minha infância foi uma vida perpendicular das almas irracionais. Almas vivas, que pisavam umas as outras e sequer pedir perdão. Vivi com a minha madrasta e com o meu pai. Aquela vida passada, foi para mim, verdade desprezo, desgraça, uma respiração sem meiguices nem afeição, numa democracia tirânica, ou seja, numa ditadura absolutamente infernal. Enquanto o passado ia passando, o meu pai trabalhava na terra das minas ou terra de Rand, vulgarmente conhecida como África do Sul. Ele enviava milhares de batatas arenas que só acabavam no quarto da minha madrasta ao lado dos seus filhos. Naquele momento, enquanto o meu cobiçar felicidade chorava numa casa de banho, em que Eu era chamboqueado[8] por uma vara de dois metros de comprimento, ao lado de outra suplente, que sempre depois da primeira extinguir-se, ela também entrava em acção no meu corpo esfrangalhado, sem meiguices, afagos, sem carícias, vergonha, sequer timidez. Eu, fruto dos seios duma mulher escrava do escravo imbecil, assim fui crescendo numa família sem contentamento, cheia de não rebeldia e dirigida por uma voz feminina fecundante.
Depois deste período de experiências infernais, vivi em Inhassoro, um distrito da província de Inhambane. Foi neste local em que a segunda necessidade de morribundar seguia-me ou acompanhava o meu lacrimejar pobreza absoluta. Mesmo assim, a vida em mim não se rendeu. E por causa disso, agradeci-a pelo meu empenho profissional na Escola Industrial e Comercial Estrela-do-mar de Inhassoro. Local em que deixei os meus traços ou pegadas de intelecção e maravilhados pela serralharia mecânica, o curso da minha especialidade do nível básico secundário moçambicano.
Neste período de tempo, fui alguém vivente graças a apoios radicais dos vizinhos. Enfrentei a vida batalhando contra a miséria financeira, através de biscatos[9] que rasgavam o meu ventre esfomeado. Deste modo, fui respirando os ares daquela costa marítima de Inhassoro até quando se decidiu sair de lá pela necessidade de nível académico, que desejava radicalizar-me já na Cidade de Maxixe. Local em que resido empurrando as mais arcaicas pedras quentes do ir e sempre ir da vida.
Estou agora a frequentar o nível superior na área pedagógica cursando Filosofia.
O meu desejo vivo, sempre foi igual ao das outras crianças, adolescentes, jovens e adultos cicatrizados por uma alma infernal durante o seu viver neste cosmos,[10] em que sequer se sabe definir quem sou eu, tu, nós…
Dia-a-dia, Eu, JUERSA desejo profundamente uma vontade prática de ajudar toda criança possível, que arrosta momentos de vida cruel pela família ou sociedade em geral. Criar uma comunidade para acomodar crianças desfavorecidas fisicamente, mentalmente e ou socialmente é este o meu desejo divino. E quem sabe, talvez depois disso, por já ter contemplado essa felicidade, habilitar-me-ei em saber dizer, afinal de contas, quem sou Eu!        

                          



[1][1] Um jogo de brincadeiras, com uma garrafa e areia. O jogador precisa encher a garrafa com a areia, mas esquivando-se da bola entrelaçada por duas pessoas que estão em dois extremos diferentes de uma linha, tentando atirá-la no jogador.   
[2][2] Um jogo de brincadeiras, em que o jogador precisa simplesmente esquivar-se da bola entrelaçada por duas pessoas que estão em dois extremos diferentes de uma linha, tentando atirá-la no jogador.   
[3][3] Um jogo de brincadeiras, em que uma pessoa saltita dentro de certos quadradinhos traçados pelo grupo a jogar. O jogador saltita com um pé direito e não deve pisar fora do quadradinho, se não comete falta e perde o jogo, neste caso.  
[4][4] Um jogo de brincadeiras, em que, o jogador joga ao lado do seu adversário um espécie de xadrez. Onde neste caso, colocam-se dado por dado desde o principio do jogo nos espaços destacados no desenho ou figura do jogo, tentando atrapalhar o adversário para perder pela sua organização formal de dados.
[5][5] Um jogo de brincadeiras, em que, um ou vários jogadores atiram castanhas para adentrarem numa cova muito fina por eles aberta. E só ganha quem consegue adentrar a castanha. Ganhando, o jogador recolhe todas as castanhas dos seus outros adversários e se quiser continua ainda a jogar com eles, caso não, ele retira-se do grupo com as suas castanhas. 
[6][6] Um jogo de brincadeiras, em que, o jogador amara uma corda precedida por uma vara de pau duro num pequeno objecto afigurado de cone, e, depois de segundos, ele chamboquea o objecto sem parar. Durante os chambocos, o objecto vira milhares de vezes sem parar. Enquanto isso, o jogador só perde quando o objecto cai e para de girar. Aí, ele deve recomeçar o jogo.      
[7][7] Um jogo de brincadeiras, em que o(s) jogador(es) faz um meter e tirar dados dentro de uma cova, sem deixar cair o dado principal que é usado por jogador para atirar para cima e recebê-lo como se fosse um guia de controlo.   
[8][8] Porrada ou levar sova.
[9][9] Trabalho provisório, que não dura muito tempo.
[10][10] Expressão usada para designar o universo ou mundo. 

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